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É paradoxal, mas, nas últimas semanas, ninguém conseguiu dar tanta força e relevância às manifestações pelo Brasil como a polícia militar. Foi assim também no Maracanã, antes de Itália x México, conforme relatou o repórter Thiago Leme, da ESPN, que presenciou tudo in loco: "Eles partiram para o ataque sem motivação alguma".
Dois dias antes, uma amiga que cobria os protestos no Rio para outra emissora de TV, falava com um comandante da PM, com microfone desligado: "Eles estão tranquilos, né?", disse, referindo-se aos manifestantes. Ouviu uma resposta inusitada: "É, estão. Mas pode deixar que vamos dar um jeito nisso". E deram.
Não foram as únicas vezes que isso ocorreu. Não foi só no Rio.
Com seu despreparo e truculência, a PM estimulou a população a participar de um movimento, que, no início, não parecia contar com grande apoio popular — por cometer exageros e por não contar com líderes capazes de expressar com clareza e carisma seus anseios e reivindicações.
Só que aquele protesto imaturo acabou abrindo espaço para gente realmente insatisfeita.
E, convenhamos, não faltam no Brasil motivos para insatisfação com o poder público em geral. Hoje, é evidente, as manifestações não são só pelos 20 centavos da passagem de ônibus ou, menos ainda, pela reivindicação utópica de um transporte público gratuito.
O preço do ônibus, aliado à ação desastrosa dos policiais, foi um estopim.
Pagamos impostos em troca de serviços públicos, quase todos, lastimáveis. Pagamos R$ 1,2 bilhão para reformar um estádio de futebol como se isso fizesse algum sentido. Renan Calheiros é o presidente do senado. O "rouba mas faz", antes ironizado, virou regra da esquerda à direita. Serviços particulares que carecem de regulamentação e fiscalização pública, como as operadoras de celular, são um lixo. E com um pouco de boa vontade este parágrafo não teria fim.
No futebol, tema deste blog, também não é difícil encontrar alguns exemplos de boas (e óbvias) causas: o preço dos estádios públicos, o respeitável Marin no comando do futebol brasileiro, o garoto-propaganda-e-fornecedor Ronaldo no Comitê Organizador da Copa, as obras de infraestrutura do Mundial que não saem do papel, o descumprimento de leis ao tombar monumentos públicos, o processo de licitação do Maracanã. E aqui também a gente só para se quiser.
Motivos não faltam, portanto, ainda que faltem bons porta-vozes dessas causas nos protestos.
Além da desastrosa ação policial, colabora para o crescimento das manifestações um outro fator, atípico nos episódios do gênero no país: o apartidarismo. Em São Paulo, onde tudo começou, temos um governador do PSDB e um prefeito do PT. Os dois partidos que comandam o país desde 1995 e que se assemelham bem mais do que querem fazer crer, principalmente nas suas deficiências.
Assim, em que pese a meia dúzia de bandeiras de partidos com pouca relevância nacional, os protestos são, na sua maior parte, apartidários. Não partem de um lado e nem do outro. Até porque, no atual cenário político brasileiro, tão fisiologista e corrupto, ninguém está em condição de atirar a primeira pedra.
As manifestações não são de partidos. São da população.
E ao contrário do que dizem alguns, não são por nada. São por tudo
Por Gian oddi
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