terça-feira, 18 de junho de 2013

Os protestos não são por nada, são por tudo. No futebol inclusive



Reuters
Tropa de choque em conflito contra manifestantes
Tropa de choque em conflito contra manifestantes antes de Itália x México, no Maracanã 

É paradoxal, mas, nas últimas semanas, ninguém conseguiu dar tanta força e relevância às manifestações pelo Brasil como a polícia militar. Foi assim também no Maracanã, antes de Itália x México, conforme relatou o repórter Thiago Leme, da ESPN, que presenciou tudo in loco: "Eles partiram para o ataque sem motivação alguma".
Dois dias antes, uma amiga que cobria os protestos no Rio para outra emissora de TV, falava com um comandante da PM, com microfone desligado: "Eles estão tranquilos, né?", disse, referindo-se aos manifestantes. Ouviu uma resposta inusitada: "É, estão. Mas pode deixar que vamos dar um jeito nisso". E deram.
Não foram as únicas vezes que isso ocorreu. Não foi só no Rio.
Com seu despreparo e truculência, a PM estimulou a população a participar de um movimento, que, no início, não parecia contar com grande apoio popular — por cometer exageros e por não contar com líderes capazes de expressar com clareza e carisma seus anseios e reivindicações.
Só que aquele protesto imaturo acabou abrindo espaço para gente realmente insatisfeita.
E, convenhamos, não faltam no Brasil motivos para insatisfação com o poder público em geral. Hoje, é evidente, as manifestações não são só pelos 20 centavos da passagem de ônibus ou, menos ainda, pela reivindicação utópica de um transporte público gratuito.
O preço do ônibus, aliado à ação desastrosa dos policiais, foi um estopim.
Pagamos impostos em troca de serviços públicos, quase todos, lastimáveis. Pagamos R$ 1,2 bilhão para reformar um estádio de futebol como se isso fizesse algum sentido. Renan Calheiros é o presidente do senado. O "rouba mas faz", antes ironizado, virou regra da esquerda à direita. Serviços particulares que carecem de regulamentação e fiscalização pública, como as operadoras de celular, são um lixo. E com um pouco de boa vontade este parágrafo não teria fim.
No futebol, tema deste blog, também não é difícil encontrar alguns exemplos de boas (e óbvias) causas: o preço dos estádios públicos, o respeitável Marin no comando do futebol brasileiro, o garoto-propaganda-e-fornecedor Ronaldo no Comitê Organizador da Copa, as obras de infraestrutura do Mundial que não saem do papel, o descumprimento de leis ao tombar monumentos públicos, o processo de licitação do Maracanã. E aqui também a gente só para se quiser.
Motivos não faltam, portanto, ainda que faltem bons porta-vozes dessas causas nos protestos.
Além da desastrosa ação policial, colabora para o crescimento das manifestações um outro fator, atípico nos episódios do gênero no país: o apartidarismo. Em São Paulo, onde tudo começou, temos um governador do PSDB e um prefeito do PT. Os dois partidos que comandam o país desde 1995 e que se assemelham bem mais do que querem fazer crer, principalmente nas suas deficiências.
Assim, em que pese a meia dúzia de bandeiras de partidos com pouca relevância nacional, os protestos são, na sua maior parte, apartidários. Não partem de um lado e nem do outro. Até porque, no atual cenário político brasileiro, tão fisiologista e corrupto, ninguém está em condição de atirar a primeira pedra.
As manifestações não são de partidos. São da população.
E ao contrário do que dizem alguns, não são por nada. São por tudo
Por Gian oddi

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